quinta-feira, 25 de outubro de 2007

São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007



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Análise

O samba não morreu, ele está no poder

Com discos de veteranos como Marisa Monte e de novos talentos como Mariana Aydar e Roberta Sá, gênero se revigora

NELSON MOTTA
COLUNISTA DA FOLHA

Desde que o samba é samba escuto essa conversa mole de que "o samba está morrendo, o samba vai acabar, o samba não tem espaço", ou, em sua forma conspiratória, "querem acabar com o samba". Pura malandragem. O samba está no poder, sempre esteve, e agora -na era da eletrônica e do hip hop- está mais do que nunca.
Hoje os gêneros nacionais dominam o mercado musical: mais de 80% dos discos vendidos aqui são de música brasileira, uma boa parte deles de samba. A Nova Lapa renasce e cresce com dezenas de casas de samba e de novos sambistas. Há rádios que só tocam samba. O samba não está renascendo, porque não morreu: apenas cresce e se multiplica.
Os dois artistas de maior prestígio e popularidade das suas gerações, Marisa Monte e Marcelo D2, dedicaram discos inteiros ao samba, venderam milhões de CDs, fizeram turnês triunfais com imensas platéias no Brasil e no exterior.
Entre os novos talentos, os discos de Roberta Sá e Mariana Aydar foram os mais bem recebidos, com críticas entusiasmadas e platéias lotadas. Foram dois grandes discos de samba, de diversas formas do gênero.
Os músicos veteranos Lobão e Lulu Santos apresentaram em seus novos discos alguns surpreendentes e inovadores sambas pesados, cheios de guitarras, distorções e baixos roqueiros, que estão entre suas melhores criações.
E agora, fechando a roda, a fabulosa Maria Rita lança o seu melhor disco, exclusivamente de sambas, trazendo estilo, qualidade e novidade ao gênero. Ela não se limita a regravar clássicos ou pérolas esquecidas. Vai buscar o samba vivo, novo, pulsante, com cheiro de rua e com ecos de choro e bossa nova, de funk, soul, reggae, brega, da polifonia urbana carioca, não confinado a cânones e preservacionismos. No disco de Maria Rita, o melhor exemplo são as cinco músicas do sensacional Arlindo Cruz, com vários parceiros, em diversas formas de samba, do romântico ao clássico e ao moderno. Com Maria Rita é tudo samba de primeira, como gostava e fazia João Nogueira, o ídolo de Marcelo D2 e ele mesmo um grande renovador do samba.
O que artistas tão diferentes têm em comum, além do amor e respeito ao samba? Justamente o impulso de renovação do samba, incorporando novas batidas, timbres e sonoridades, renovando ao mesmo tempo o pop, o rock, o hip hop e a MPB. Eles deixam os resgates para o Corpo de Bombeiros, ou como desculpa para os incontáveis discos com inúteis regravações de velhas músicas, muito piores do que as originais. São artistas que fazem enorme e merecido sucesso justamente porque não resgatam, nem repetem e nem se enquadram, que não têm medo de inovar e ampliar as fronteiras, a linguagem e as platéias do samba.

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